quinta-feira, 19 de junho de 2008

um breve conto sci-fi...

Observações:
– Todos os nomes são provisórios, inclusive o do personagem principal "Ignis" e seu codenome, "Lagan"...
– A narração pode tornar-se enfadonha e prolixa nas explicações de caráter técnico, devido ao meu repertório científico insuficiente... Mas ainda assim gostaria muito que lessem!
– Postem qualquer tipo de comentário. Tenho a mente aberta a todas as opiniões, novas idéias e até objeções, críticas ofensivas, xingamentos... desde que tudo venha da sinceridade e da leitura completa da história.

– Planejo estender ainda mais, de modo a virar uma grande história. Minhas idéias podem resultar em vários livros e pretendo me lançar nessa produção quando minha vida tiver melhor estruturalmente. =/






A INVASÃO GALAFLAME

O TEMOR DE LÚCIA
– Vinci está infiltrado na estação espacial da HIEXR (Human Iniciative for Extraterrestrial Research), repousada a 180000 anos-luz do sistema solar de sua origem, em nebulosas próximas ao bulbo central da Via Láctea. No momento, encontra-se na reta final de sua missão, que é analisar os procedimentos das pesquisas, a condição de vida humana e as suspeitas de corrupção; mas, principalmente, desvendar tudo o que foi escondido desde o inicio desse projeto, realizado sob parceria de nações, entidades financeiras e várias corporações transnacionais na Terra.
– Vinci se dispôs de aproximadamente 23 anos para espionar, desde os estágios iniciais da construção, até conhecer infra-estrutura, tripulação, administração, lideranças e inteligências artificiais. Em 20 de Agosto de 2115, nos mandou informações via ondas eletromagnéticas de tecnologia space-lensing-cross, o que lhe permitiu elaborar imagens tridimensionais, gráficos estatísticos variados e grandes quantidades de informação. Ao serem checadas, nos foi possível mapear e conhecer toda a macro-estrutura da estação. Foi construída progressivamente, a partir de 2085, e finalizou-se como um planeta artificial, suspenso na paisagem cósmica. Uma paisagem tão pictoricamente colossal como nunca antes vista pelo pintor mais inspirado.
– Chamada Cristal Negro (ou pelo apelido geral: Crystal Steel), a estação tornou-se um corpo celeste, visto ao longe, na forma de um monólito tecnológico agourento, mergulhado na imensidão profunda das estrelas e nebulosas. Sua dimensão pouco menor que o satélite lunar terráqueo, vislumbra fracamente o centro, em torno do qual se emaranham estruturas metálicas ordenadas, que servem para montagem e acoplamento das construções de habitação, laboratórios, bases militares e de controle autodefesa. Encontra-se ao limiar de uma nuvem de gases compostos de hidrogênio, ozônio e outros gases nobres, além de grandes asteróides – minérios úteis à engenharia da recém chegada colônia exploratória.
– A comunidade científica acreditava (e só agora se convenceu...) nas possibilidades de ligas metálicas diferentes das que se produzem na Terra, além da existência de metais elementares totalmente estranhos aos da Tabela Periódica conhecida... Esse é um dos maiores motivos que fizeram os humanos acelerarem a conquista do hiper-espaço...
– Como plano de fundo, a paisagem deslumbra-se magnífica, em vastas constelações! O pó-de-estrelas espalhado aos 360º da visão, alternando-se em brilhos, cores e aglomerados diferentes, disperso no espaço tão ampla e profundamente longe quanto os olhos podem distinguir! Sem contar as outras grandes esferas de luz, que não deixavam dúvidas a nenhum outro imaginário – perito ou não em astronomia – quanto às suas dimensões em relação ao nosso velho Sol Terráqueo de dias azuis...
– A estação, apesar de, em seu estágio atual, ser capaz de abrigar mais de 90000 pessoas, não menos do que 35000 vivem nela, entre militares, engenheiros, técnicos e cientistas de várias áreas; o resto são criaturas robóticas encarregadas das tarefas mais árduas, movendo-se agitadas aos montes, feito silhuetas de uma aparente população de humanóides e animais... Além disso, Cristal Negro ocupa o espaço pelo seu diâmetro de 2606 km; superfície 28,5 milhões de km²; 80% do tamanho da nossa Lua. Um corpo celeste tecnológico resultante das maiores pesquisas da engenharia reversa; agora à imagem e semelhança de um crescimento urbano planetário minuciosamente arquitetado, suspenso no céu estrelado... No centro encontra-se o gerador de gravidade global, permitindo à Crystal Steel dar condições físicas semelhantes às da Terra.
– Vinci, de acordo com seus planos que já havia pré-estabelecido naquela época em que nos enviou as informações, finalmente tem acesso ao setor de vigilância e autodefesa planetária. O que está prestes a fazer provavelmente nos abrirá as portas a mais uma horrenda batalha...
Assim termina Lucia de registrar em seu diário de bordo virtual, agora terminando a sessão do software de gravação de voz em seu HUD-Pod. Enquanto observa o espaço através das grandes janelas panorâmicas da nave em viagem, Ulrich, lider da equipe de reforço na missão, se achega perguntando calmamente:
– Lucia, por que tenho te notado sem aquele seu bom humor? Você nos contagiava... Há dias tem se mostrado tão quieta e pensativa... desde quando embarcamos em Mother Cruiser... O que se passa? Está com medo?
Lucia vira-se e fita os olhos de Ulrich. Fala com ar melancólico:
– Você não está com medo? Nem um pouco? Até parece um veterano, falando desse jeito... Não se empolgue com seu cargo de líder. Sei que cada um da equipe está ansioso, mesmo o pouquinho que seja... A tropa dos 220 também!... É a nossa primeira vez... Ninguém aqui passou se quer por um colégio militar... Viemos todos da mesma condição social...
– Lucia, minha querida... Primeiramente, quero dizer que não estou empolgado com o meu cargo... Não pedi ao Sr. Emdam... Apenas quero exercê-lo de modo a dar exemplos de um digno escolhido... Devo me empenhar na minha coragem e segurança. Nessas horas é que nos damos às provações da vida. O que está por vir nos deixará mais fortes... Você sabe disso! – roga ele, sorrindo leve e afetuosamente.
– Oh amigo... Eu sei! Todos nós fomos escolhidos dentre jovens de todo o planeta... Isso me dá honra, é claro. Não estou com TANTO medo. È só aquela ansiedade que vem, quando fazemos algo muito além de tudo que se pode experimentar na Terra... Viajar pelo espaço com a Galaflame é maravilhoso, mas, ao mesmo tempo, essas missões prometem ser um grande desafio. E o Lagan então! Aquele cara me intriga! Em Nebula Fire, ele raramente aparece pra se enturmar com o pessoal da frota. Nos treinamentos, ele apenas dava as orientações, mas logo saía, deixando tudo com os flamdrins. Apesar disso, sempre se apresenta com uma expressão calma e até alegre; com um sorriso leve e gentil; com aquela cabeça raspada ainda, nota-se um semblante plácido. O olhar dá impressão de uma personalidade forte, muitos anos nas costas... e ainda parece ser mais novo do que nós!
Ulrich, agora inquieto, se entrega à empolgação:
– Eh! Ele parece ser um cara incrível... Simplesmente por também ser da Terra, e daquele país onde está acontecendo várias revoltas... Acredito que seu passado seja uma história muito interessante...
Os dois agora parecem jovens comuns, numa conversa que, se antes começou com seriedade e angustia, agora se descontraía, como numa sala de aula do colegial. Lucia diz agora sobre outra das grandes figuras Galaflamers:
– E o Vinci, hein! Como ele deve ser?... Noto que é muito falado pelos membros da cúpula. O Sr. Emdam fala dele várias vezes, quando conversa com os flamdrins.
– O que eu sei é que ele não é flamdrin... também foi recrutado da Terra, há muito tempo antes da gente...
– Que máximo! – diz Lúcia, e de repente esbanja aquele humor outrora sumido. – Espionando nossos conterrâneos! O que será que está fazendo em Cristal Negro neste momento?...
Ulrich agora volta ao semblante de militar sério:
– Precisamos que ele conclua a sabotagem do sistema, de modo a, no mínimo, fazer as unidades voadoras orbitantes, assim como toda a frota externa de proteção (majoritariamente robótica) ficarem latentes, sem detecção de ameaças e objetos não identificados no raio de 10 anos-luz de seu alcance... Só assim teremos campo de missão favorável pra darmos o primeiro passo... Lagan é esse passo... Irá à frente para chegar direto aos setores de abrigo humano e de lideranças, o que só é possível devido às suas habilidades de combate, que reúnem, de uma só vez, funções de fuzileiro, metralhador, demolidor e atirador de elite[1].
Subitamente, os dois são interrompidos por alarmes sonoros breves, semelhantes a escalas de piano em nota Si; em seguida, a voz do flamdrin Dáiam, avisando:
– Ulrich, Lucia! Venham ao centro de comando. Parece que vamos encarar situações graves quando chegarmos em Crystal Steel...
– Só podia ser... Tinha que acontecer um imprevisto... – Diz Lucia, sentindo de volta aquele frio na barriga... – Será que aconteceu algo a Vinci?
– Deve ser isso... – responde Ulrich – Ainda não recebemos nada acerca da chegada de Lagan. Ele está a apenas 33 horas de viagem até lá... Vamos ver Dáiam!
Saem os dois da ala lateral da nave, onde se estendem as grandes janelas panorâmicas, flutuando a caminho do Centro de Comando, localizado na popa da grande Mother Cruiser.

VINCI É CAPTURADO
Vinci sai do setor CSSD (Crystal Steel Self-Defense System, ou SDS). Toma extensos corredores a caminho do hangar de espaçonaves Standard Fighters... Mas então, depara-se com o que torna-se uma das cenas mais sinistras e ameaçadoras de sua vida. Agora pasmo, dominado por um medo mortal, pensa consigo:
Eu...eu...ahhh... soube das atrocidades às quais fomos submetidos... Mas isso?... Meu Deus!… Isso não pode ser real! Como nunca pôde ser... – começa agora a irromper sua voz, um pouco rouca e afobada, bradando como se estivesse a reclamar com o maior mau-caráter do mundo – NÃO! NÃO ME MACHUQUE!... Quem é você? É o Demônio??? Já vou lhe avisando que não tem poder sobre mim!!!
– Sabe quem sou eu, Vinci?... – diz a silhueta humanóide com uma calma intimidante e um ar cômico, flutuando no obscuro profundo do corredor, cujas luzes esverdeadas começam a se apagar, uma após outra...
Vinci é então capturado à força. Podia-se ouvir seu grito num raio de 500 m de onde estava, ecoando pelos corredores e ambientes internos do setor SDS. A voz alternava-se em tons de agonia diferentes, terminando sufocada, com um chiado estridente. Alguns da tripulação nas proximidades ficaram alarmados. Alguém estava sendo estrangulado...
Apesar disso, Vinci conseguiu completar sua missão, ao fazer com que o temporizador do seu equipamento de sabotagem causasse dano geral no setor de controle da SDS. Os robôs começam a avaliar, e não conseguem abrir a escotilha de entrada da sala de painéis. Várias unidades de reparo se juntam no corredor. Alguns maiores trazem canhões de íon para arrombar as porta. Outros introduzem aparelhos cibernéticos na parede ao lado da escotilha, para tentar abri-lo, mas suas tentativas de resolução são tardias...
Dois operadores de máquinas que estão na cabine de gerenciamento de robôs se indagam [EM INGLÊS]:
– Philip, come take a look! It’s’unbelievable! […] venha ver isso! Inacreditável! É a primeira desordem, desde a inauguração da estação! Os robôs de manutenção estão convocando os da classe SDS para arrombarem a escotilha de entrada do setor secundário de painéis. O corredor A-001 está tumultuado deles... – reclama Alan.
Enquanto Alan observa sentado tudo que acontece pelo mapa em seu monitor, Philip desconecta os cabos de imersão cibernética de sua cabeça, se levanta da poltrona e dá três passos em direção à janela da cabine.
A cabine está no topo de uma torre de aproximadamente 200m, que lhes permite ver as transições de máquinas, robôs e tripulantes pelo setor da SDS, que fica a 45º de longitude oeste. Philip, apesar de todas as vezes que observara admirado a paisagem, agora arregala os olhos diante da fumaça cinzenta que escapa e se espalhava pela atmosfera acima do local da desordem. Centelhas frenéticas lançam, a grandes distâncias, milhares de partículas incandescentes, como fogos de artifício que não saem do chão; destroços brilham à luz das grandes estrelas Magalhães 6 e 7. Finalmente, Philip solta a voz:
– QUE DESGRASSA! – pronuncia devagar os fonemas, indignado – Quem foi o ultimo a entrar?... C...co...como!... Como conseguiu permissão sem passar por nossa sub-alfândega???
– Não consigo acessar o banco de IPs (Crystal Steel Intra Protocol System). Está tudo dentro da sala de controle, que, no momento, não recebe entradas, nem ciberneticamente... Por que o sistema falha justo quando mais precisamos dele?! Até parece que os técnicos não fizeram testes antes de implementar tudo... Que droga! – reclama Alan de novo. Os dois se olham por um tempo; Alan começa a lembrar – Hei! Um cientista chamado Vinci vinha pro SDS a cada 5 ciclos... Deve ter sido ele! Ah, e mais! Enquanto você estava imerso na Intra-Cyber, ouvi uns sons muito estranhos. Pareciam gritos ao longe, de alguém sendo torturado. Me deu calafrios... Não posso acreditar que tudo isso esteja acontecendo milhões de anos luz da Terra...
– Tente localizar esse Vinci pela Intra-Cyber (Crystal Steel Intra-Cyber Space).
– A pesquisa apenas encontra seu ICP (Intra-Cyber Protocol), mas não revela seu diretório... Isso quer dizer que ainda está na estação, mas não sabemos onde exatamente...
– De qualquer modo, todo mundo na Estação permanecerá nela... As unidades de vôo para tripulantes foram desativadas, assim como o sistema de auto-defesa... Isso me parece estranho demais! Por que justo esses dois sistemas estão corrompidos? O pior de tudo é que a droga do alarme ainda não foi acionado… Isso está me parecendo SABOTAGEM... – afirma Philip com olhar de mistério.
Os dois discutem ouvindo as estruturas de sua cabine tremerem e reverberar sons graves, estrondos metálicos, vindos dos robôs em ação no corredor principal A-001 da SDS. Tensão e ansiedade os dominavam enquanto desciam da torre e tomavam conduções para o local da desordem.

ALERTA DE INTRUSO
Ignis Costa Júnior. Codinome: Lagan. É o único na GalaFlame Ministry (uma entidade formada por humanos via-lacteanos, vindos de uma outra civilização, muito distante da Terra) da categoria Heavy Cruiser Warrior e um dos guerreiros primórdios. Também é o único dotado de um equipamento de guerra diferenciado, resultado de eras e eras de conhecimentos acerca de matéria exótica e tecnologias revolucionárias, adquiridos em jornadas extensas – ou até lendárias – dos humanos pelo espaço sideral – o chamado Sider Space...
Ele está prestes a entrar em Cristal Negro como um ousado e ultrajante intruso... sozinho... sem reforços.
Como um leopardo correndo em toda sua força, a nave Flying Cat avança pelos 800 metros longe das docas de entrada, localizadas 90º longitude oeste, 50º latitude norte. Chega sobrevoando a órbita, manobra em mergulho kamikase e entra nas docas[2] (que ainda não foram fechadas, como medida de segurança emergencial) até frear-se bruscamente. Muitos robôs avistam a nave intrusa e acionam estado de alerta para toda frota robótica equipada com armas de Crystal Steel. Centenas deles e mais outras unidades de variadas formas: voadoras, rastejantes, canhões fixos na plataforma de recepção... todos disparam fulminantes rajadas balísticas e lasers em Lagan, a partir da plataforma.
Lagan, num grande salto de dentro da nave, emerge entre as milhões de luzes do fogo cruzado dispensado pelos frenéticos disparos dos robôs. Muitos escapam, lançados ao espaço, além da atmosfera artificial. Assim começa um grande show pirotécnico de explosões, estrondos, luzes intensas, sons agudos e estridentes.
Os robôs, atentos, fitam suas câmeras – seus olhos – no ser que se impõe em meio ao caos. Vêem um ser humano vestido com uma roupa muito bem fixada às formas e curvas do corpo. Ao mesmo tempo em que tentam atingir o alvo, processam os dados observados: um corpo esguio, de 1,77m; pela agilidade e altura, estimam a idade de 19 anos, massa orgânica de 60kg. Avistam também uma estrutura que seu banco de dado não reconhece: em seu braço direito, uma arma de vários canos... um grande aparato mecânico.... Há um arco traçado da extremidade dos canos até o cotovelo, a guisa de uma faca gigante acoplada à arma salteadora. Além dos seus canos de disparo, se divide em muitas formas metálicas cinza prata, chapas, capas protetoras, alavancas, mira a laser... outras peças incandescentes de atividade propulsora. A arma é estimada pelos atentos seres robóticos, sem certeza técnica, como uma grande metralhadora, vista com seus componentes eriçados, dinâmicos, estendendo-se à frente do braço como seu prolongamento mecânico de guerra e destruição em massa[3].
Lagan agüenta o peso, mas o objeto bélico é tão grande que não consegue equilibrá-lo da melhor maneira. Suas pernas dão passos desengonçados, por isso, passa várias vezes a utilizar sua livre levitação...
Sua armadura é na verdade uma rede entrelaçada, constituída de um material exótico – de composição química ainda em estudo, denominado pela GalaFlame de Tenerium – que permite o teleporte de matéria em baixa escala e interage com propriedades tanto tecnológicas quanto metafísicas do ser humano.
Várias chapas do metal exótico se espalham pelo corpo, compondo uma proteção hermética, compacta, resistente às maiores rajadas de força do universo. Têm suas formas combinadas com as dos músculos, aspecto polido, brilhante, dando a Lagan um visual de automóvel high-tech style. Outros tecidos abaixo da proteção desempenham sucção de fluídos corpóreos e regulam a temperatura; por teleporte, também conferem reposição de energia e hidratação.
Seu capacete também é compacto, parecendo um envoltório simples, sem exceder a proporção do crãnio. Na face, fica a expressão de pantera à espreita, com as formas ovais pequenas para os olhos semi-serrados, reluzentes em um tom dourado.
Logo abaixo da armadura, há uma rede bloqueadora de inércia, reguladora de equilíbrio e movimentos. Reluz quando em atividade máxima, vista através das frestas entre as chapas metálicas.
Em suas costas, uma das mais importantes inovações da GalaFlame: três discos, fixados na armadura – também constituídos do material exótico – que proporcionam vôo livre, à velocidade de até 600km/h. Lagan pode voar como um pássaro, se deslocando e fazendo malabarismos com toda naturalidade.
Flying Cat desembarca sozinha, saindo pelas docas. É atingida por várias rajadas lasers, no limiar da doca de saída. Assomando-se lá encima, passa pelos anéis das docas e escapa sem danos, acelerando bruscamente quando vários dos robôs desistem de persegui-la.
Lagan está agora cercado de robôs. Antes, voava acima deles em círculos vertiginosos, desviando-se da torrente de disparos, que nem passam perto do alvo; depois, quando os robôs entendem que não é fácil abatê-lo, pousa, caindo com os pés no centro da plataforma. Por um breve momento, a plataforma se torna um palco onde os personagens se aquietam e se espalham à volta de um único protagonista; todos cessam fogo e analisam as características daquele ser ameaçador, intacto, também perscrutando ao seu redor...
Subitamente, Lagan voa 30 metros acima, ao passo que gira em torno de si e dispensa os tiros da metralhadora – a Wired-Fire... As hordas robóticas logo respondem à ofensiva, em disparos frenéticos, autômatos, retornando assim o caos na plataforma. Lagan dispara um míssil a leste e destrói todas as máquinas que o cercavam naquela direção. Sobrevoando de volta a oeste, mergulha em direção aos remanescentes, esquivando-se dos tiros; com a outra mão, joga um explosivo Fire- Gêiser e termina a destruição de centenas das unidades SDS.
Lagan avista a leste, estendendo-se a partir da plataforma, a larga pista de passagem de veículos que levava, por cerca de 2 km, à base de descarga e checagem de conteúdos. A arquitetura é grande, com altura de 25 metros. No portal de entrada, cerca de 20 robôs guardavam sob o umbral em arco; mandam disparos ao longe, enquanto Lagan voa a caminho. Esquiva-se de um... dois...três... outra série de mísseis perseguidores... até finalmente ser atingido, porém apenas o fazem desabar no limiar da base. Capota o corpo por cerca de 8 segundos no chão de concreto da pista; recompõe-se de pé já dentro da base. Recebe outros tantos tiros que o deixam sem reação e o mandam logo para fora da base... Novamente, se levanta rápido; repentino, empunha Wired-Fire, e um alto estrondo dispara, tremendo o ambiente. Uma cápsula é lançada a 955 km/h, demolindo toda aquela arquitetura high-tech em cima das máquinas vacilantes... Outras conseguem escapar, mas são destruídas por mais uma sessão de balas. Lagan vira-se e depara com duas entradas de túneis dividindo a pista, 30m à frente. Voa e deliberadamente entra no esquerdo. A 210 km/h de velocidade dentro do túnel, só pode ver as luzes passando, mas nada ainda além das curvas e no horizonte.
Voando adentro, nota que, na parede à direita, um veículo à trilha o alcança. Diminui a velocidade e percebe que dois homens em pé estão nele, vestidos com equipamento técnico e capacete com um grande visor de vidro mostrando o rosto. O veículo é pequeno, como uma plataforma teleférica sem cobertura e um parapeito de cilindros de aço; os dois os agarravam firme e se equilibravam em pose surf.
Lagan vê que estão discutindo, ora olhando para ele, ora entre si, virando a cabeça várias vezes. Como não consegue distinguir direito a expressão de seus rostos, ativa dois círculos de iluminação. Os dois tripulantes se assustam e erguem uma de suas mãos a frente, pois a luz os ofusca. Os círculos aparecendo de repente, daquele modo, flutuando ao redor do corpo de Lagan, mais pareciam desenhos vivos, mágicos e reluzentes; não se pareciam com a tecnologia conhecida.
Um deles apanha e aponta uma arma comprida que estava fixada na grade do parapeito. O outro tenta impedir, agarrando com a mão esquerda a direita armada do companheiro, baixando a pontaria por um instante. Os dois se olham bravos, rangendo os dentes, pois se desentenderam... De repente, Lagan ataca rajadas de choque. Arcos voltaicos os atingem chicoteando, e o armado é lançado contra os parapeitos, desaba no chão do veículo; o outro, com o escudo de um metro que também havia á disposição, conseguiu se proteger, mas fora atingido no flanco. Também é lançado contra a mesma barragem traseira, caindo de joelhos ao lado do outro desacordado. Chegando mais uma bifurcação, rapidamente puxa uma alavanca, e o veículo segue outro rumo no túnel. Lagan os deixa escapar, seguindo à esquerda.
Após cerca de 10 segundos, finalmente avista o fim do túnel se aproximando. Uma espécie de átrio, com o teto aberto, e as paredes com portais dando para outros túneis. Lagan chega ao centro, observa os portais fechados e voa para a abertura acima. Lá fora, avista um complexo extenso de construções, e uma torre lá longe, a oeste. É o setor SDS.
Ele conhece o mapa inteiro de Cristal Negro... sabe onde deve ir... sabe que aqueles gazes e destroços incandescentes sendo lançados à atmosfera são da tentativa dos robôs de entrar na sala de painéis de controle, onde Vinci deveria ter armado a sabotagem da SDS e, depois disso, ter ido ao hangar de aeronaves, fugir, e encontrar-se com Lagan fora da estação. Fica parado, flutuando, ao observar por um tempo aquela paisagem de construções cinzentas, em cubos enfileirados; a torre estranha, negra, com inúmeras luzes seguindo o tronco... Agora vai direto ao local da sabotagem. Alguns robôs tentam entrar pelo teto, mas Lagan logo os expulsa com rajadas laser, e continua o que estavam fazendo ao seu modo. Pousa sobre a construção e dispensa abaixo mais rajadas. Um estrondo... mais outro... e o terceiro explode a estrutura, abrindo o teto da sala de painéis. Entrando nela, vê à volta uns cinco monitores planos de tamanhos diferentes, o maior mostra o que as câmeras de vigilância captam em todos os ambientes da Estação e além dela, nas áreas de coleta das nebulosas próximas. Lagan aproxima-se de um monitor menor, no canto da sala e começa a operar os painéis. Tocando deliberadamente aqui e ali na superfície touch-pad, consulta o mapa, para procurar o paradeiro de Vinci, tentando onde pudesse mostrar seu ICP gráfico.
O histórico mostra que Vinci foi para a saída da SDS que dava na pista oeste, até a plataforma de entrada de aeronaves, que, por sua vez, dá acesso ao hangar. Parou no corredor da SDS por cerca de 5 minutos. Depois, mostra no mapa que voltou ao corredor A-001, que dá no túnel de onde acabou de sair. Dali passou por um dos portais, seguiu o túnel na velocidade de 80 km/h, depois simplesmente desaparece do mapa, apagando o ponto que o representava na tela.
Lagan faz várias digitações e abre os três portais que estavam trancados. Lá, segue o que se impusera fechado ao lado direito do fim do túnel. O mais rápido possível, a 300 km/h, o túnel o levava em direção sudoeste de Cristal Negro. Estava a caminho do centro de experiências químicas, a Crystal Steel Industrial Lab. Aproximando-se o fim, reduz gradualmente a velocidade e pára a poucos metros do umbral em arco, dividindo o túnel do estranho laboratório. Agora seguindo a pé, em passos calmos, sabe que deve entrar com cautela...
Observa então um imenso ambiente. As laterais com janelas panorâmicas. O lugar tem 8500m², altura de 60m até o teto, onde se podia ver construções pendendo como estalactites. Delas se prolongam grandes tubos de fluídos até a base, que relampejavam em tons dourados. Na base, terminam em silos de armazenamento.
Lagan apenas observa, mas permanece relutante, pois além da paisagem, distingue lá embaixo, ao longe, fileiras e fileiras de seres mecânicos postados no chão, como que esperando por alguma ordem inicial. Os mais próximos apontam seus braços equipados em direção do túnel. Todos ficam parados por um tempo, mas Lagan começa e subitamente larga vôo, indo direto àquela grande tropa. Assim dá início a mais uma batalha descomunal: um numeroso exército contra um único inimigo...
Logo irrompe o som alto de muitas metralhadoras, e Lagan voa em espirais, desviando-se dos milhões de balas. Atira com a mão uma XSpace- Gêiser[4], e muitas unidades são jogadas a metros de distância.
Porém, Lagan não presta atenção nos muitos robôs voadores dispersos pelo espaço acima dele, e acabam lhe atingindo várias balas; finalmente, dois mísseis o acertam em cheio pelas costas...
Além dos soldados equipados com extensão robótica de guerra; chegam a passos largos centenas de homens equipados com uma armadura militar volumosa e metralhadora. Todos observam tensos Lagan sendo atingido, e as explosões lançando ao chão se corpo, que rola... capota... e os combatentes próximos não cessam fogo... seguem o corpo, que continua a rolar por metros de distância, invisível em meio às explosões...
Logo o comandante, usando extensão robótica, anuncia bradando sua rouca e forte voz:
– CEASE FIRE! – grita longamente a última palavra, e aqueles que insistiam logo começaram cessar fogo. A fumaça dispersa em segundos, a multidão fica atenta... 1... 2... 3... 4... 5... Então aparece Lagan de pé, fincando no chão uma haste negra e comprida, soltando faíscas embaixo. De súbito, Lagan salta ligeiro na vertical, a 80... 100... 200 por hora.
Cthennnnnnnnnnn... bbbbBBBOOMMMMMMMMMMmmmmmmmmmmm!!!....
Do chão, onde estava Lagan, se ergueu uma alta labareda de fogo e fumaça. Assim, todos que se aglomeravam vacilantes só tiveram tempo de tomar um susto. São jogados longe. As instalações químicas se deformam, entortam, quebram certas partes pelo grande impacto; as janelas se estraçalham num ruído estridente, meio agudo, rasgando o ambiente. Um vento forte expulsa destroços afora, a além das grandes laterais. Tudo acontece em segundos...
Logo tudo é sugado de volta ao núcleo da explosão por uma ventania mais fraca. Os soldados erguidos pelo equipamento robótico caem, muitos dos outros a pé escorregam... capotam... logo desmaiavam, ou tentavam se recompor devagar, cambaleando e caindo. Lagan que, depois da grande ofensiva, flutuava a salvo no alto, quase no alcance das estalactites tecnológicas, mergulha de cabeça para passar pelo rombo que abriu no chão. Ao se aproximar, acaba ouvindo um som como de uma cachoeira fraca de melodias, causado pela centena de soldados agonizantes, dialogando e gritando entre si...
Lagan passa pela neblina de plasma do interior de Cristal Negro; logo escapa para fora, se desviando das estruturas que sustentam as construções pelo globo.
Não olha pra trás... aquele laboratório tão apreciado pela comunidade científica, agora em ruínas, transformado em campo de batalha... Em sua parte superior, acima dos limites da arquitetura, se erguiam mais construções até o nível das docas; um imenso tubo interligava o laboratório até uma outra plataforma acima, onde as naves coletoras não-tripuladas descarregavam a matéria colhida. O tubo, assim como aqueles menores, dentro do laboratório, também relampejava em tons ora dourados, ora azuis, ora esverdeados.
Agora seguindo o caminho do túnel que se estendia a partir da outra extremidade do laboratório, já avistava o setor de hospedagem humana, denominada The New City, A Nova Cidade. Ali se encontram todos os humanos em Crystal Steel.
Mas olha acima, e, para sua surpresa, avista centenas de corpos voadores que ainda não consegue identificar à distância. Estão sobrevoando muito além da atmosfera artificial, espalhados pelo céu da Estação, numa imensurável região. Muitos dispersos, outros voando em formação ordenada. A cena o deixa impressionado e distraído. Ouve um som grave aumentando gradualmente, até que DJHUMMMMMMmmmmmmmmm!!!! E leva uma rajada sem perceber de onde veio... A armadura o protege, mas ele fica tonto; ainda continua o vôo, mas sente uma forte dor nas costas e flancos. Subitamente dá de cara com uma daquelas unidades. Não previa tal estranheza. Se espanta com o que vê... Imediatamente, Lagan solta mais um projétil bomba, e a explosão destrói a criatura, mas também atira longe o próprio corpo.
DJHUMM, DJHUMMM, DJHUMMMMMMmmmmm!!... Mais três rajadas o pegam de surpresa... Agoniza forte com a voz e a garganta aos nervos. Ativa vôo automático, desviando-se como uma mosca de mais tiros, enquanto é curado pela sua armadura.
A unidade que destruíra se parecia mais com um monstro do que com um robô! Não tinha nexo aquela face meio sorridente, um olho saltado e o outro piscando sem parar; aquele corpo de músculos excessivos, rosados, e a cintura envolvida por um cinto metálico... No lugar das pernas, pendiam cabos e fios elétricos, medusas filamentosas gordas, tecno-orgânicas, compridas, terminando numa longa calda à semelhança dum escorpião... Um braço direito maior e mais forte que o outro, introduzido por muitas peças mecânicas que se estendiam e interligavam vários canos de disparo, sendo um destes maior do que os outros. Sem contar as várias outras peças saído e entrando do corpo, aparentando não ter funções específicas...
Antes de Lagan ter lançado o projétil, ouviu a criatura emitir um som intermitente, como o de uma corda de violão puxada com insistência, aumentando a freqüência lentamente, junto com uma voz sussurrante mórbida que delirava. A maior dúvida era de onde havia saído. Talvez dos grandes anéis cruzantes em volta da estação, além da atmosfera. Lagan não tem certeza, mas julgou melhor destruir um grande número deles, a fim de facilitar a entrada de Mother Cruiser, que, a essa altura, já estava a caminho, quilômetros de distância.
Logo nota que vários do mesmo tipo estão quase a cercá-lo. Estes tinham o mesmo padrão, mas fisionomias diferentes. Percebe que além de combatentes são bombas ambulantes... Imediatamente tenta fugir, largando-se veloz em direção a New City. Dispara WF com balas e munições laser na multidão que o persegue. Um cardume de outras centenas de andróides apressa seu curso na atmosfera e seguem Lagan. Logo milhares o perseguem. Um vôo vertiginoso sobre a cúpula de vidro da grande cidade tornava o céu em batalha espacial... Lagan atira alucinado com Wired-Fire na direção de vários aglomerados. Alterna-se entre rajadas balísticas, íons, mísseis e lasers de longo alcance. Logo uma chuva de peças, próteses e órgãos caem ensangüentando a cúpula da cidade. Toda aquela destruição acabou borrifando uma grande região do céu, acrescentando uma tonalidade vermelho-sangue à estética da estelar paisagem...
Ao longe, Lagan ouve abafados explosões e estouros, quando mais uma vez é alvejado de surpresa por um golpe que o atinge acima do tronco até a cabeça. Lagen é lançado para dentro de Crystal, perde-se em meio ao plasma e às grandes barras da mega-construção, muito abaixo do nível das bases.
Voltando à consciência, se confunde com a neblina, e avista a silhueta vaga de uma misteriosa construção, pouco abaixo de New City, e interligada a esta por uma estrutura em haste. Mas ouve estranhos sons mecânicos e eletrônicos se aproximarem atrás, vira-se, e depara com uma figura ainda maior... Cerca de 8m de altura. Mais um monstro a perseguí-lo... Seu corpo tem o mesmo aspecto dos andróides anteriores, mas agora tem armaduras e uma espécie de elmo tecnológico fixado no pequeno crânio.
Lagan usa Wired-Fire, mas esta logo começa dando sinais de dano... Só consegue metralhar... E, pelo que notou, não surtia mais efeito no ser que se impunha 15m a frente. Ao tentar a escapada, o gigante joga um material viscoso do braço direito, atingindo e amarrando o corpo de Lagan. Puxa e voa até um dos portais de New City. Abre a escotilha e, voando por sobre os exóticos edifícios da cidade, joga Lagan contra o chão. Este se recupera antes de se chocar, retorna acima e finca um dos extensos cilindros de Wired-Fire (em cuja extremidade, há acoplado um metal rígido e pontiagudo) dentro do peito do andróide. Porém, este o agarra com os braços, e os dois se lançam ao chão em grande velocidade. Lagan puxa várias vezes o gatilho da metralhadora, também tenta fazer funcionar o lazer, insistindo com a outra mão numa pequena alavanca de ignição de reatores: um... dois... tres... quatro... CLACKkkk!! E consegue mais uma ajuda de WF, quando, tarde demais, estão quase no chão. Caem em cima de uma base, e o andróide se explode, numa força ainda maior do que a bomba de Lagan no laboratório.
O que era para eliminar o intruso o faz adentrar ainda mais, caindo num escuro abismo. Um largo túnel vertical iluminado por leds nas paredes, que mais parecia um ambiente subterrâneo artificial, com os mecanismos e as peças metálicas compondo falhas e relevos à volta.

Lagan ainda tem agarrado na perna esquerda o que restou daquela arrebatante figura pós-humana. Três vezes o tamanho do intruso, da cabeça e tórax até o braço direito, continua em estado terminal, como um boneco quebrado, oscilando ao vento da queda... espalha-sangue... espalh’indústria... retalhado em suas carnes; seus outrora aparatos mecânicos ainda mais se misturam, à guisa de lixo tecno-orgânico... Com a mão, segura forte a perna do guerreiro, e ainda consegue olhar piscando; pender fora a língua filamentosa; babar e soar suas cordas vocais, bovinamente alto e agonizante...
De súbito, dá um tranco e sacode Lagan, feito um gorila usando o lagarto de brinquedo... Lagan se assusta, tenta usar WF, mas ela não responde... Então ativa Projeção Gráfico-Material: a tecnologia de teleporte de matéria fracionada; aparecendo assim uma figura holográfica de uma espada na lateral do sinto. Enquanto a arma é projetada em matéria, Lagan soca WF e tenta fazê-la funcionar pelos gatilhos. Qualquer tipo de munição serviria nessa hora...
Logo percebe que o túnel vai sendo iluminado pelo seu final. Tenta observar o que o espera, mas não consegue distinguir bem. Apenas percebe que o túnel termina cedo de mais, muito acima do que parecia mais um dos grandes ambientes da arquitetura steeliana. Segundos antes de passar pelo grande círculo de escape, Cutting-Brighte fica pronta. Com a mão esquerda Lagan à retira do cinto e logo começa a desferir na tora humanóide. Golpeia desesperado, e os dois estão caindo numa espécie de templo high-tech. A 50 metros, Lagan continua a golpear o andróide, e, tarde demais, os gladiadores espatifam numa imensa arena de piso polido. Misturaram-se o baque tilintante do intruso com o baque oco reverberante do lixo tecno-orgânico, que termina de se esquartejar com a cabeça rolando, cuspindo sangue e fluidos pretos.
Lagan se ajeita fracamente... Apóia-se nos braços, força dobrar as pernas, mas cai, manca, desequilibra... Na terceira vez, levanta-se lentamente, abraçando o tronco e mau carregando WF. Leva a mão às partes danificadas da armadura nos flancos e na cintura, onde se perderam chapas de metal protetor, expondo o couro negro com os filetes claros do sistema de equilíbrio adicional. Larga-se de WF dando um tranco com o braço, e ela escapa num estalo vibrante de peças. KLAACKKkk... Desaba em mais estalos e rangidos.
Depois de observar seu estado, olha para o chão á volta, para as paredes... Além do chão, nada mais parece ser uma arquitetura planejada, pois o resto é aparatos tecnológicos sem nexo adornando as laterais. Uma grande sala redonda, pouco menor do que um estádio de jogos. Os patamares superiores e o teto formam uma cúpula, começando com cabos incandescentes grossos, dando uma tonalidade vermelha ao ambiente; terminando lá no alto, até a saída do túnel, em formas geométricas reluzentes num fulgor branco, iluminando bem o vasto e misterioso lugar. Há um som pulsante de grandes máquinas, ecoando e reverberando, parecem repetir dou ou três notas.
Trata-se de um setor que não constava nos holomapas do companheiro infiltrado em Crystal Steel.
Lagan finalmente dá um tempo. Vê um sinal em seu visor informando a chegada de reforços. Na armadura facial, o visor Fire-Eyes e os metais cobrindo a boca se abrem ligeiros. Expressa consigo, porém cansado e abatido:
– Arrrhhhh... Cara!!... Aonde você foi parar?... ­– fala Ignis, com a voz meio rouca, sem fôlego, quase a tossir.
Fecha os olhos, ergue a postura e a cabeça, se espreguiçando; logo se curva e dispensa uma longa tosse, rangendo os dentes e gorgolejando a voz:
– GGGh!hhhhrruuurrrrrrrrr... – Termina ele, quase se ajoelhando.
Sabe que está num lugar possivelmente perigoso, mas continua com olhos fechados, devido às dores, que demoram a serem aliviadas pela sua roupagem multifuncional. Na mente lhe vem lembranças do Brasil e da família... Inclusive não esperava que a missão em Crystal Steel lhe guardasse esses últimos imprevistos. Subestimou a evolução tecnológica de seus conterrâneos, já que passou tanto tempo longe da Terra. Mas, como se não bastasse o sistema próprio de cura, uma voz lhe vem do profundo, lhe reergue a alma, dando novas forças, nova perseverança... Assim levanta devagar, meneando a cabeça, e quase dá uma risada. Comenta, forçando a voz ainda rouca:
– É claro... Tudo isso é necessário, afinal!
Mas seu rosto muda completamente a expressão, ao ouvir um som se iniciando, vindo de trás. Era de arcos voltaicos, longamente chicoteando ar e chão à volta. Uma presença intimidante se aproxima e Lagan receia olhar para traz... Os sons voltaicos terminam, e ele diz em pensamento:
– Cutting-Mirror teria sido melhor... Cutting-Brighte não foi tão eficiente dessa vez, agora está longe de mim, jogada no chão... Mas não posso tentar pegá-la... Não pelo que ameaça minhas costas agora!
Mas Lagan tenta. Voa rasgando o ar em direção à espada, 10m longe dele. Segura CB com a ponta abaixada. Cai forte, faz arco com a perna direita, risca o piso: TCHZZZZZZZZZIIITT!!! Ao jogar sua face acima, se depara com uma cena além de sua compreensão...
Lá está um homem branco nu, esticado e pendurado pelos braços e pernas, cerca de 8 metros do chão. Os cabos enganchados nas mãos e nos pés se ligam a aparelhos esféricos que ficam flutuando. Lagan nota a posição do corpo inteiro semelhante àquela do milenar Homem Vitruviano de Leonardo. Chega mais perto, nota um maquinário imenso vindo do alto da cúpula como um braço robótico de várias dobras, feito de peças negras. Dele sai um cabo, que, para a pasma cognição de Lagan, se introduzia nas partes baixas daquele pobre ser. Outros cinco cabos estavam conectados a terminais na nuca e nas costas. Está molhado de suor, mas já começa a dar sinal de palidez. Sacode muito, e Lagan não entende se o fazia por causa da dor, ou se era impulsos vindos daquela máquina hedionda. Ao sacudir, os aparatos mecânicos soam como um monte de peças soltas, e balança as mechas molhadas dos cabelos pretos, crescidos até o pescoço.
Lagan observa tudo aquilo e sente aflição, junto com pena, indignação e ira, ante a tamanha insanidade imposta a um irmão de espécie... Mas Lagan pensa, agora com uma ansiedade que lhe eleva as entranhas, todo o resto dos nervos... e até alma – Não...nn...não...... não pode ser...
Aqueles cabelos, para arrasar de vez seu coração, são o que poderia encontrar de mais familiar em meio a todo aquele antro de imundices, tão pomposamente produzido pela técnica da corrupção do homem...
A familiaridade do que vê atrai sua mais instintiva curiosidade. Levitando suavemente devagar, à medida que aproxima, a tristeza o domina, e seus olhos se enchem... Achega-se a um metro do corpo – que sacode alternadas vezes – a fim de ter certeza de quem é o rosto, pois está erguido. O pescoço sobressalta as veias, devido à tensão de fortes dores e espasmos. Respira rápido, como que forçando os movimentos do diafragma a colaborarem para suportar a dor... A boca costurada escorre sangue nos furos, devido à pressão das bufadas... O nariz em erupção excessiva de ranho... Olhos arregalados, sem piscar... pálpebras enganchadas... córneas-nervo-sangue... lágrimas de sofrimento...
Lagan chora... soluça... mal consegue dizer que seu nome é:
– V...V... Vinci!... ...amigo... O que fizeram com você?....

CONTINUA...
Próximo capítulo:
O OUTRO LADO

sábado, 14 de junho de 2008

Star Wars Brasil

Em 13 de junho, tive o privilégio de ir à exposição Star Wars Brasil, no Parque Morumbi. Inicialmente programada pra acabar em 25 deste mês, mas agora prorrogada para até 20 de julho, segundo o site oficial da exposição:
http://www.starwarsbrasil.com.br/index2.htm


Foi uma experiência marcante ver os modelos originais das naves e dos figurinos, que antes eu só podia admirar vendo os filmes. Nunca imaginei, muito menos quando criança, na primeira vez que me facinava pelo mundo de Star Wars, que um dia chegaria a ficar tão perto das peças usadas nos próprios filmes.

As amostras que mais me prenderam a atenção foram as ilustrações, concept arts e story boards, tão bem desenhados e detalhados. Pude notar que, num desenho de um Battledroid, o autor começou com rabiscos simples, a fim de estabelecar a composição geral da anatomia do personagem, até usá-los como base para os detalhes finais, que são de uma precisão impressionante... Até parece um jeito tosco e infantil de desenho desproporcial, que vai sendo moldado metodicamente, até virar um concept dos mais profissionais. É mais uma prova de que, para desenhar bem, basta prática intensiva e sensibilidade aguçada para a composição adequada do que se imagina antes de passar para o papel.
Para quem é fã e aspirante a concept artist, vale a pena!


quarta-feira, 4 de junho de 2008

IDEA/BRASIL 2008: Inovação, Design e Negócios

Esse foi na noite de 27 de Maio, o Segundo Encontro IDEA/Brasil de Sesign, realizado na faculdade.
O Marcelo Villin falou da situação do design no Brasil e sobre seu projeto de pesquisa a ser realizada, para produzir conhecimentos estatísticos de como a profissão é exercida e como são comercializados os produtos, avaliar e medir diversas relações entre público alvo e empresas da área. Fará esse trabalho tomando o mercado de moda como principal ambito de pesquisas.
Achei interessate todas as opiniões dele, dizendo que é comum o brasileiro considerar um designer como qualquer individuo com algum dote artístico e que consiga fazer alguma peça gráfica ou criar algum objeto trivial, apenas a pedido de trabalho casual, sem ter a devida formação...
O designer no brasil tem sido mais um "pasteleiro" qualquer, trabalhando sob a pressão da clientela ignorante (que, inclusive, pode vir até de grandes empresas...). O trabalho de Marcelo será muito útil pra formalizar a profissão no país, além de abrir os olhos cegos de indivíduos que apenas pensam ter vocação...
Outra palestra muito interessante foi a de Frank Tyneski, que também foi um dos profissionais que ajudaram no desenvolvimento do novo IPhone da Apple. Discursou sobre sua experiência e sobre sua visão do design exercido no brasil. Nos últimos minutos, ele deu uma opinião que também não diferia muito da de Marcelo, quanto ao carater de aviso, de conselho: disse que (pelo que pude entender) os brasileiros precisam parar de produzir só entretenimento e tratar de produzir mais utilidades inovadoras em design, que façam sucesso mundialmente... algo que eles têm muita capacidade pela criatividade ainda inexplorada...

Speed Racer

Assisti ao Speed Racer, no Cinemark do Marketplace, em 14 de Maio. Filme adaptado da série de animé dos anos 6o, de mesmo nome, escrito e dirigido pelos irmãos Wachowski, os mesmos que criaram Matrix.
O filme começa mostrando a infância do personagem principal, Speed, já fissurado por corrida de carros, tendo seu irmão, Rex Racer, como um verdadeiro ídolo. Os dois são filhos de Pops, que desenvolve os carros como empreendimento independente e Rex Racer, em sua juventude, é um dos melhores pilotos das competições. Porém, Rex com ímpeto de vencer os grandes desafios na carreira, aceita participar da famosa corrida de Casa Cristo. Isso faz com que Pops rejeite o próprio filho, banindo-o da família. Em certo trecho da Casa Cristo, Rex sofre um grave acidente, e todos pensam que ele morreu, sendo a catástrofe divulgada por toda a mídia mundial. A família faz o velório, sem saber que Rex não morreu e se tornou o famoso Racer X. Speed, já crescido, mostra nas corridas suas grandes habilidades, despertando os interesses do empresário Sr. Royalton, que oferece ajuda à família. Mas Speed recusa, devido aos conselhos do pai. Speed, como seu irmão, também aceita correr em Casa Cristo, sem consentimento do pai. Racer X propõe entrar na competição para combater casos de corrupção, junto com o japonês Taejo Togokhan. Depois Racer corre a Grand Prix, onde há uma grande expectativa de expor os corruptos que arranjam as corridas, com Sr. Royalton sendo o grande alvo. Ao fim, Speed vence a Grand Prix numa verdadeira aventura pelas pistas; Royalton é desmascarado e a história do que realmente aconteceu com Racer X é mostrada: fez cirurgia plástica, mudando totalmente a identidade, a fim de proteger o irmão e a família das ameaças de facções criminosas nas corridas.
O filme é um dos melhores que já vi. É bem do meu tipo, principalmente pela forma, os efeitos visuais, o desenho dos carros, a emoção das corridas, onde os pilotos fazem manobras extremamente fora do comum.

domingo, 1 de junho de 2008

MASP - Estratégias para entrar e sair da modernidade

Nesta exposição estavam a mostra obras nacionais modernas e pós-modernas. Dividia-se entre as seções "Moderno Clássico", reunindo autorias do período inicial, marcado pelos artistas da Semana de Arte Moderna de 1922; "A aparência simples das coisas", com obras propondo as coisas como elas de fato são, ou, segundo as descrições do folder disponível: obras "que, mesmo sem voltar de todo a um período anterior, não entraram de todo na modernidade"; "Compromisso com o local", das obras de artistas que procuraram sair do impulso inicial da modernidade, seguindo novos – e seus próprios caminhos; "Poesia e irrealismos", cujas obras tratam de um maior nível de "manipulação" da realidade, da qual fazia parte uma escultura chamada "O Impossível", de Maria Martins, totalmente pintada de preto, que se parecia com duas pessoas com a forma de suas cabeças distorcidas ao extremo, lançando uma à outra um dinamismo de formas eriçadas em garras; "Abstrações", subdivida em "A partir da figura", "A matriz geométrica" e "Informe", cujo processo das obras se deu nas décadas 50-60, desconsiderando a importância da arte figurativa, do indivídio como determinante da história e o desaparecimento do autor.
Por fim, a subdivisão "Coda", com seu subtítulo: A Arte depois do Moderno, que comporta obras pós-modernas a partir dos anos 80 até recentemente, que agora retomam a figuração, além de utilizar objetos em si industrializados e fixados nas composições, além de recursos da tipografia e adotando também o conceito da "máquina [ou a indústria] como produtora de arte".

MASP - A Natureza das Coisas

Esta exposição também foi ótima. Havia quadros do séc. XIX, modernistas e até uma surrealista, de Max Ernst, "Bryce Canion Translation", 1947. Dividia-se em seções: Paisagem e humanismo; Paisagem: gênese e gênero pictórico; Parques, jardins; Arborescência; Marinhas; A Cidade; Interiores; Natureza-morta; e As coisas na modernidade. Gostei muito das pinturas romanticas do séc. XIX. São lindas, pelos ambiente bucólicos, serenos, e pelo detalhismo das reproduções. As que mais me chamaram atenção foram "Cachoeira de Paulo Afonso", 1850, de E. F. Schute; "A Catedral de Salisbury vista do jardim do Bispo", 1821-1822, John Constable; "A Canoa sobre o Epte", 1890, Monet; e a já citada, de Max Ernst.

MASP - A Arte do Mito

Na exposição A Arte do Mito, estava à mostra uma coleção de obras sobre o tema do mito, com pinturas, desenhos e cerâmicas. Compreende obras da Grécia Antiga/Clássica, Renascimento, Barroco, Romantismo e Modernismo.
No ano passado, algumas das obras já tinham sido expostas, e, desta vez, me senti novamente privilegiado de me aproximar de grandes pinturas, como as Barrocas, que sempre admirei pela técnica e perfeição, e que antes só podia ver em livros. O que me deixou impressionado foram as obras gregas. Havia uma escultura do séc. V, IV ou III a.C. (já não lembro bem...), outra peça de cerâmica: um vaso com desenhos da mitologia feitos em traços delicados e objetivos, parecidas com a técnica das figuras egípcias. Me lembrei que já havia visto essa peça num livro de história, já faz um bom tempo... na minha época de vestibulando. Sobreviveu atravessando os séculos, até parar na minha frente. Isso é inspirador! Sem falar nas outras lindas obras impressionistas...

MASP - Obra em Contexto: O Casamento Desigual, de Quentin Massys

No MASP estava tendo as exposições chamadas "Estratégias para entrar e sair da modernidade", "A Natureza das Coisas", "A Arte do Mito" e o programa Obra em Contexto, que expunha o quadro renascentista de Quentin Massys: "O Casamento Desigual".
A obra em contexto, que foi pintada no séc. XVI, trata-se de um tema que sempre foi retratado na história da arte, que é o casamento de pessoas de idades muito diferentes por interesses econômicos, devido ao impacto visual do caso. É mais freqüente encontrar quadros retratando esse tipo de casamento, mas entre uma jovem e um homem idoso... O que torna o quadro de Massys inovador nesse gênero é justamente a abordagem contrária: um homem novo com uma velha... As pessoas ao redor são parentes e amigos, com seus rostos horrendamente caricaturais, sugerindo a ocasião de escárnio, hipocrisia e tolice. Tudo pintado com a habilidosa técnica de Massys.
O que me faz ainda mais interessado é saber que um casamento desse tipo, já naquela época, encarava determinado juízo de valor, sendo visto com repulsa, devido à falta de caráter, de boa moral e à ganância. O artista trabalha os rostos daqueles que se envolvem no caso com ar mais monstruoso do que belo ou realista... Assim, pude verificar efeitos da estética sublime nessa obra.
A propósito, no site oficial do MASP, a seção Obra em Contexto é definida como uma "exposição de bolso com obras do acervo mostradas em situação especial, curadoria interna e convidada". Por isso, pelo que entendo, é à parte das outras.