domingo, 6 de setembro de 2009

S.O.E. - um novo conceito de interface digital

Este é um texto que produzi para uma tarefa da faculdade, na disciplina Design de Interface, ministrada pela professora Helena Sordili. A proposta foi idealizar novas metáforas para as interfaces comuns do computador.
Comentários e sugestões de todo tipo são muito bem vindos.


SISTEMA OPERACIONAL ESTELAR

a
transição do Desktop para o Espaço Intergaláctico de Trabalho.

o modelo mais convencionado de interfaceamento dos sistemas operacionais Windows ou Mac não permite uma visão abrangente dos “objetos” armazenados no computador (os arquivos). São objetos porque derivam da metáfora do escritório de trabalho, com escrivaninha, gavetas, papéis e acessórios em geral que implicam na prática da organização de documentos e materiais da mídia impressa. O ponto de partida do usuário é necessariamente a escrivaninha, onde ele apenas se vale de determinados elementos para a operação de seu trabalho. Isso limita a visualização de todos os seus recursos, sem uma visão abrangente que possibilite seu conhecimento espacial (ou a localização) de todos os documentos e ferramentas armazenados e disponíveis em seu sistema. Muitos dos arquivos ficam “escondidos”, pois muitas pastas e subpastas podem anteceder o encontro de um ponto específico do sistema, e a visualização em metáfora de janelas força o usuário a percorrer esse caminho em seções separadas e estáticas.
A metáfora do Desktop pressupõe interações geralmente literárias, ou seja, com os signos e sistemas simbólicos da linguagem escrita, onde podemos verificar uma contradição frente ao novo modo de viver e pensar imagético que cada vez mais é condicionado em nossa vivência diária, na operação com meios virtuais, ou na imersão em ambientes que demandam a facilidade de relacionarmos com a não-linearidade das imagens, ou melhor, da experiência visual.
Com o propósito de resolver tal problema de maneira totalmente diferente, poderíamos mudar essas metáforas, adotando uma visão inteiramente espacial e tridimensional do Sistema Operacional (S.O.). Por isso concebi a metáfora baseada no Espaço Intergaláctico.
Este novo S.O. funcionaria permitindo a interatividade com os objetos que são gerados pelo computador (basicamente os arquivos), de modo a representá-los como estrelas, espalhadas na escuridão do espaço. Essa escuridão contrastaria com os objetos luminosos, lhes dando mais evidência, sobre os quais não precisaríamos nos preocupar com uma organização sistemática. Podemos simplesmente espalhá-los no espaço, e a organização de categorias e níveis hierárquicos de tais objetos poderia ser efetuada por “nebulosas, de cores e tonalidades diferentes, associadas a significados pré-estabelecidos no programa, dados ao conhecimento prévio do usuário. Essas nebulosas corresponderiam ao conjunto de objetos, envolvendo-os na área do espaço onde estão localizados.
Os “arquivos” agora são substituídos pelo conceito de “estrelas”, a “pasta” pelo de “galáxia”, a “subpasta” pelo de “sistema solar”, e a “lixeira” pelo de “buraco negro”. As “janelas” já não são mais necessárias...
Todos os objetos podem ser vistos de uma vez só, sem precisar navegar painel por painel estático. Para o usuário saber qual pasta/galáxia está sendo explorada, uma galáxia espiral é animada no espaço, sendo os seus braços curvos estendidos os seguimentos dos corpos solares (o sol significando a subpasta), que, com sua luz intensificada, sinaliza a ativação da área que está sendo acessada (ou explorada) pelo usuário. Todos os objetos armazenados no computador são apenas vislumbrados como uma paisagem de estrelas distantes (pontos menores de luz mais fraca), resultado do efeito de profundidade dos gráficos 3D do S.O..
A visualização dessa interface é semelhante ao próprio céu noturno, onde a interatividade simula a possibilidade do usuário tocar nas estrelas, arrastá-las para onde quiser ou deletá-las no buraco negro. A interface de um determinado programa instalado no computador, com sua devida identidade visual e ferramentas, é mostrada em tela cheia, mas não necessariamente baseada na metáfora estelar, ficando a critério livre dos desenvolvedores destes programas. O espaço para os botões e menus de ferramentas desses programas seria ampliado, já que não precisamos mais da metáfora de “janela”.
O usuário pode também ativar um recurso que mostra a funcionalidade de arquivos/estrelas executáveis (.EXE), destacando graficamente uma rede de interligações destes arquivos com suas devidas extensões (.DLL, .TTF, etc.), quais executáveis estão ocupando muita atividade de processamento da CPU, os atalhos destes arquivos/estrelas, e até os fragmentos de arquivos (também representados como estrelas, ou como “poeira estelar”).
Apesar da aparência sem organização espacial dessa interface, as “nebulosas” fazem toda a diferença, delimitando as porções de arquivos/estrelas que pertencem a determinada pasta/galáxia raiz, ou a determinado programa, variando a cor de acordo com a identidade visual para os programas, ou para os arquivos padrões do computador, cores já definidas pelo S.O., podendo estas serem conhecidas por uma legenda na tela.
Este novo conceito de interface pode se adequar facilmente a um período de transição no mundo das tecnologias interativas. Pode ser operada com acessórios já conhecidos, como o teclado e o mouse, como também com novos dispositivos de realidade aumentada, como luvas sensíveis, ou joysticks do tipo Nintendo Wii. Também podemos prever sua aplicação em ambientes holográficos interativos, ou mesa sensível ao toque (tecnologia Digital Paper). O usuário poderia arrastar uma estrela flutuando em seu entorno, e guardá-la na mesa interativa, ampliando as funcionalidades do S.O. Estelar. Um bom exemplo seria a busca na Web, podendo o usuário alternar-se entre o S.O. de seu computador e o universo paralelo da Internet, arrastando os itens/estrelas encontrados na busca para a mesa interativa, ou vice versa (da mesa para o ambiente estelar do S.O.).
Apontar e selecionar as estrelas (mouseOver, mouseDown) são ações que podem ser indicadas visualmente por grafismos típicos dos HUDs de jogos de ação (como Dead Space), de modo circular, animando-se ao redor da estrela interagida.
Na solução de uma interface de e-mail, o usuário poderia escolher ou criar um planeta (customizando suas propriedades) no Espaço de Trabalho, e designá-lo como receptor de “meteoritos” (as novas mensagens na Caixa de Entrada). O planeta também pode ser designado não apenas como sua conta de e-mail, mas como seu Planeta Avatar, representando o protocolo de seu computador na Internet. Isso facilita a interação de um navegante com outro na rede, seja Intra ou Internet.
Enfim, os estudos da astronomia vêm fornecer um bom sistema simbólico a ser aplicado às interfaces digitais metafóricas. As próprias teorias da entropia da matéria e da expansão do Universo condizem com a questão da eternidade e da ilimitada capacidade de expansão da cultura imaterial (formalista), agora condicionada pela nova maneira de pensar e viver do homem contemporâneo, mais imagética e não-linear do que nunca antes constatada (Vilém Flusser, 2007). O Sistema Operacional Estelar (SOE) dará mais liberdade de espaço em layout e possibilidades criativas sem precedentes em interfaceamento, sem as contradições que caracterizam as mídias digitais comuns, derivadas das mídias impressas, baseadas em um modo linear de ver e pensar (não que a linearidade em si seja um problema...).
Além disso, o conceito de redes ou malhas de hiperlinks, de ligações entre entidades ou objetos virtuais pode ser melhor experimentada no S.O.E, com mais facilidade e rapidez de operação. O fato de os computadores estarem mais aperfeiçoados em sua capacidade de processar imagens e objetos 3D e simularem fenômenos da natureza mais realistas graças à tecnologia de hardware evoluindo a potências cada vez mais elevadas sugere que o S.O.E poderá se tornar realidade num futuro próximo.